A Maldição do Escorpião de Jade © DreamWorks

Woody Allen | 10 curiosidades sobre os seus filmes

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Woody Allen regressa com “Um Dia de Chuva em Nova Iorque”, razão suficiente para conhecer um dos mais dedicados realizadores da sétima arte.

Um dos atores, argumentistas e realizadores mais criativos de Hollywood, ou melhor dizendo, de toda a história do cinema é, sem dúvida, Woody Allen.

Como ele, poucos souberam misturar elementos dos géneros: da comédia, ao drama, ao romance, passando até pelo mistério, pelo musical e até pelo melodrama familiar. Hoje, o seu cinema surge fragmentado nas histórias de cineastas mais novos como Noah Baumbach, Richard Linklater, Sofia Coppola, entre outros, que é realmente difícil passar uma vida inteira como cinéfilo assíduo e ignorar o seu cinema e a sua importância histórico-cultural. Mesmo assim, parece que os mass media e a própria indústria de Hollywood querem dizer o contrário. 

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Tal como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola (os três realizaram juntos 3 “Histórias de Nova Iorque” [1989]), Allen tornou-se um sumo representante da ideia do realizador como “autor”, surgida da Nouvelle Vague. Levantada para os Estados Unidos, a problemática reforçaria o poder dos realizadores americanos, que finalmente assumiam total controlo criativo do projeto (da pré-produção à pós-produção com os cargos de realizador, argumentista conciliados por vezes aos cargos de produtor e/ou ator).

Um Dia de Chuva em Nova Iorque
Um Dia de Chuva em Nova Iorque © Gravier Productions

Lamentavelmente, Hollywood ainda não se conseguiu libertar da teia de confusões e problemas – gerados pelas redes sociais, por pensamentos mirabolantes e pelos Movimentos bastante radicais do #MeToo e “Time’s Up” -, para conseguir seguir a apreciar a obra de Allen. Isto porque, Allen não conseguiu estrear o seu mais recente filme “Um Dia de Chuva em Nova Iorque” nos EUA, que num mundo perfeito poderia ter sido a 3ª colaboração do realizador com a Amazon Studios.

“Um Dia de Chuva em Nova Iorque” (um impressionante 50º filme alleniano) segue a mesma linha da maioria dos filmes anteriores do cineasta: Nova Iorque, as relações amorosas fragilizadas, a desconexão entre as personagens, as pressões familiares e sociais, o jazz, etc., mas desta vez decidiu filmar, mesmo que com toque nostálgico e outonal, os jovens dos dias de hoje. Não é que Woody Allen seja completamente estranho à juventude (ver, por exemplo, Mariel Hemingway em “Manhattan” [1979] ou Drew Barrymore em “Toda a Gente diz que te Amo” ([1997]), mas desta vez coloca os jovens adultos, desenquadrados dos contextos e universos envolventes como personagens principais. Timothée Chalamet e Elle Fanning são os protagonistas de uma obra em que as personagens parecem evoluir muito pouco, mas que expressam problemas que sempre estiveram visíveis na sociedade e que continuam sem solução. Será esse um olhar provocador de Allen sobre os jovens que passam a maior parte do tempo agarrados ao telemóvel, sem qualquer conexão com os seus familiares?

Como acontece em quase todas as mentes criativas, os seus filmes não deixam de ser um reflexo da sua vida, das suas crises neuróticas, por muito que Allen repita o contrário durante as diferentes entrevistas que concedem. É por isso que queremos dar a conhecer algumas das curiosidades que esconde o artista norte-americano, nascido em Nova Iorque a 1 de dezembro de 1935.

Faz esta viagem connosco e conhece mais sobre os seus truques, sobre as suas manias e sobre os seus filmes…


1. (Woody) Allen Stewart Konigsberg, o comediante stand-up

Woody Allen
Woody Allen | © United Artists

Sabias que Allen Stewart Konigsberg nasceu a 1 de dezembro de 1935 em Bronx e cresceu em Brooklyn, bairros muito típicos da cidade norte-americana de Nova Iorque, e também muito ligados à sua cinematografia? Descendente de judeus europeus – que foram para a América nos inícios do século XX -, Woody Allen começou a escrever piadas para colunas de jornais com apenas 15 anos, a fim de conseguir ganhar algum dinheiro e também vendeu alguns dos seus textos para programas de rádio.

O seu sucesso foi tanto que, mais tarde, seria convidado para se juntar ao NBC Writer’s Development Program em 1955, no qual ganhava 25 dólares semanais. Curiosamente, já aí Allen Stewart Konigsberg assinava os textos como Woody Allen, roubando o primeiro nome ao famoso clarinetista Woody Herman, um dos seus maiores ídolos do universo musical (a experiência de Allen, também ele um clarinetista, foi retratada no documentário “Wild Man Blues – Um Retrato de Woody Allen” [1997]).

Pouco a pouco, Woody Allen começou a construir o seu sucesso junto da comédia norte-americana. Ao mesmo tempo, que atuava como comediante stand-up (de 1960 a 1969), Allen estrear-se-ia no cinema com “What’s New Pussycat?”, assumindo-se como argumentista, produtor e ator do projeto.

Como realizador, a sua estreia aconteceu apenas um ano depois com o filme “What’s Up, Tiger Lily?”, um dos casos mais paradigmáticos da sua carreira, e que se trata, na verdade, de uma re-imaginação das cenas do filme de espionagem japonês “International Secret Police: Key of Keys”, no qual inclui dobragem em inglês e deturpa as cenas para terem outro contexto que não aquele do original. Uma estreia curiosa por um cineasta que se mostraria dedicado a assinar várias comédias pervertidas, como aconteceu, por exemplo, em “O ABC do Amor” (1972), onde o sexo era a temática central de sete pequenas histórias.


2. “Annie Hall” e os primeiros dramas sérios

Woody Allen
Annie Hall © United Artists

Falar da comédia sobre sexo no cinema de Woody Allen não é só falar dos filmes mais divertidos do início da sua carreira, muitos deles co-protagonizados por ele e pela sua segunda esposa, a também atriz Louise Lasser (atualmente com 80 anos). O sexo está também em discussão nos seus filmes mais profundos, os dramas psicológicos com influências de Ingmar Bergman em que os desejos sexuais são muitas vezes relegados para um segundo plano da vida das personagens, em muito resultado do conflito de classes do casal.

Nesta permanente conexão entre o drama e a comédia encontramos “Annie Hall”, vencedor de 4 Óscares da Academia (incluindo Melhor Filme), uma das comédias românticas mais importantes do cinema, que cuja matriz continua a ser base para muitas narrativas de hoje (a ver por exemplo a sua influência em “(500) Dias com Summer” (2009). Facto curioso é que a ideia original do filme era bem distinta ao resultado final. O filme iria chamar-se “Anhedonia” (termo científico que designa alguém que não pode sentir prazer), e o cineasta iria explorar apenas a vida do personagem principal, sem focar-se numa relação.

Numa primeira versão de “Annie Hall”, a história iria focar-se também num assassinato. Aí, um professor de filosofia iria aparecer morto, aparentemente por suicídio. Depois disso, a personagem começaria uma investigação sobre o seu assassinato, ajudado pela mulher. Como a história não se encaixava e pelas, a ideia foi colocada de parte, até que se tornou numa das histórias mais icónicas do cineasta. À história do professor de filosofia seria o mote de “Crimes e Escapadelas” (1989) e voltaria a ser destacada no mais recente “Homem Irracional” (2015).  Quanto ao assassinato, seria o mote da trama de “O Misterioso Assassínio em Manhattan” (1993), novamente co-protagonizado por Allen com a sua Annie, com Diane Keaton.

Outro facto curioso, a primeira edição de “Annie Hall” continha uma cena dos protagonistas que se cruzavam nas ruas de Manhattan com o próprio diabo, que lhes garantia uma visita guiada ao inferno através do ascensor. Esta ideia seria aproveitada em “As Faces de Harry” (1997).


3. “Maridos & Mulheres” e Allen controverso

Maridos e Mulheres
Maridos e Mulheres © Jack Rollins & Charles H. Joffe Productions

O cinema de Woody Allen é dominado pelo amor e pelos comentários que o realizador tece à noção de um sentimento tão difícil de se expressar pelas suas palavras. Não será, por isso, nada estranho observar a maneira como os seus relacionamentos inspiraram, presumivelmente, as tramas do nova-iorquino.

Com isso, o relacionamentos são sempre intensos, um pouco até exagerados,  com os casais a sentirem uma forte tensão entre si. Mas nenhuma tensão foi tão sentida no cinema de Woody Allen como as cenas partilhadas com Mia Farrow – a sua companheira de 12 anos na vida real (juntos fizeram 11 filmes) –  “Maridos e Mulheres” (1993), que teve ainda Judy Davis, Sydney Pollack, Juliette Lewis e Liam Neeson no elenco.

Na altura em que lançava o seu 21º filme como realizador, o relacionamento de ambos tinha já terminado, acabando por afetar a impressão do público sobre a sua carreira. Tudo porque os jornais e as televisões alimentavam-se do facto de Woody ter-se apaixonado pela filha adoptiva de Farrow, a sua enteada Soon-Yi Previn (com quem mantém um casamento de 22 anos). Facto peculiar é que Woody Allen passou a tirar proveito desse relacionamento para reinventar-se artisticamente. Durante os anos 90 estrearia um dos seus filmes mais fragmentados ao nível do guião: “As Faces de Harry” (1997), que mostram Allen a procurar um sentido para a vida, aprendendo a lidar com as polémicas que o aterrorizam, levando mesmo a sua personagem para os confins do inferno.

As relações amorosas frágeis continuaram a estar presentes nos seus filmes aí por diante, sendo que a felicidade é algo falsa ou ilusória e as personagens deslizam constantemente. A pergunta mesmo assim irá manter-se: será o cinema de Allen inspirado em personagens e factos reais ou será um verdadeiro sonho, uma fantasia?


4. Woody Allen tem mais Óscares que Charlie Chaplin

Apesar de não ser fã dos seus filmes, nem sequer de considerar a entrega dos prémios da Academia algo assim tão importante, Woody Allen já foi muito amado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Contam-se precisamente 24 nomeações e 4 vitórias nos Óscares. Como argumentista é ainda o mais vezes nomeado à categoria de Melhor Argumento Original (foram já 16 nomeações!).

Esta relação entre as estatuetas douradas e Woody Allen começou logo com as 3 nomeações que o cineasta recebeu em seu nome para os Óscares em 1978, vencendo em duas categorias – Melhor Realizador e Melhor Argumento Original, precisamente por “Annie Hall”. Seguir-se-ião vitórias de Melhor Argumento Original com “Hannah e as suas Irmãs” (1986) e mais recentemente com “Meia-Noite em Paris”, obra que também foi nomeada a Melhor Filme, e que foi mesmo o seu maior êxito comercial arrecadando mais de 150 milhões de euros nas bilheteiras.

Woody Allen
Woody Allen | © United Artists

A sua última nomeação aos Óscares, e certamente a última da sua carreira face a tanta controvérsia, aconteceu com “Blue Jasmine” em 2014 (para Melhor Argumento Original), que ressoa a arte de Tennessee Williams e do filme “Um Eléctrico Chamado Desejo” (Elia Kazan, 1954). Contudo, Allen nunca esteve presente para receber um galardão. A única vez em que esteve presente foi no na edição de 2002 para incentivar os jovens cineastas a filmarem na sua Nova Iorque, recentemente afetada pelos atentados do 11 de setembro.

Além disso, o cineasta já venceu 9 BAFTA Awards e 2 Golden Globe Awards. Na verdade, Woody Allen já ganhou mais 135 prémios que Charlie Chaplin, Buster Keaton e Harold Lloyd juntos. Também já ganhou prémios honorários como o Cecil B. DeMille Award, entregue pela Hollywood Foreign Press Association e o Prémio de Carreira entregue pelo Sindicato de Realizadores, o Directors Guild of America Lifetime Achievement.

Além disso, 5 atrizes ganharam um Óscar graças ao facto de participarem num filme de Woody Allen. Foram elas: Diane Keaton em “Annie Hall” (Melhor Atriz em 1978), Dianne West por “Ana e as Suas Irmãs” e “Balas sobre a Broadway” (Melhor Atriz Secundária em 1987 e 1995), Mira Sorvino por “Poderosa Afrodite”(Melhor Atriz Secundária em 1996), Penélope Cruz por “Vicky Cristina Barcelona” (Melhor Atriz Secundária em 2009) e Cate Blanchett por “Blue Jasmine” (Melhor Atriz em 2014).


5. Muitos dias de chuva (e sol) em Nova Iorque

Um Dia de Chuva de Nova Iorque
Um Dia de Chuva em Nova Iorque é uma carta de amor de Woody Allen à sua cidade natal © Gravier Productions

“Um Dia de Chuva em Nova Iorque” não foi o único filme de Woody Allen filmado em Nova Iorque. A câmara do cineasta deixa-se levar pelo clima caótico da cidade, ao mesmo tempo confere-lhe um toque romântico, tornando Nova Iorque uma personagem em si mesma. Desde os edifícios mais emblemáticos (como a Queensboro Bridge de “Manhattan”), aos parques e jardins mais florais (o Battery Park em “Tudo Pode Dar Certo” [2009], ou o Central Park em “Uma Outra Mulher” [1988]), passando até pelos restaurantes (John’s Pizzeria novamente em “Manhattan” ou o café “Pastis” em “Melinda e Melinda” [2005]), Nova Iorque tem um significado bastante especial para Allen e para as suas histórias.

Entre os principais filmes de Woody Allen em Nova Iorque, ou bairros do seu estado, contam-se: “Roda Gigante” (2017, ambientado em Coney Island), “Café Society” (2016, ambientado parte em Nova Iorque e parte em Hollywood), “Blue Jasmine” (2013, ambientado em São Francisco, mas com algumas cenas nas ruas de Nova Iorque), “Tudo pode dar Certo” (2009), “Melinda & Melinda” (2005), “Histórias de Nova Iorque” (1989), “Os Dias da Rádio” (1987), “Ana e as Suas Irmãs” (1986), “O Agente da Broadway” (1984), “Manhattan” (1979), “Annie Hall” (1977), etc.

A Nova Iorque de Woody Allen



6. Woody Allen cineasta americano que prefere a Europa

Woody Allen
Magia ao Luar © Gravier Productions

Sabias que, em tempos, foi muito comentado que Woody Allen iria filmar em Lisboa? As notícias e os telejornais portugueses não falavam de outra coisa. Muitos queriam ver Woody Allen filmar a calçada portuguesa, o elétrico 28, o Padrão dos Descobrimentos, a Ponte 25 de Abril e a Torre de Belém… Mas tal sonho nunca se tornou realidade, afinal eram os tempos da Troika, de uma cidade que queria utilizar o cinema de Woody Allen como mero instrumento de marketing turístico.

Grande parte dessa ideia absurda resultou do exílio de Woody Allen na Europa, o continente que mais ama os seus filmes. Aliás, quantos filmes de Woody Allen estrearam no Festival de Cinema de Cannes? Esta mudança de Allen para a Europa fê-lo explorar novos enredos e tudo começou com “Match Point” (2005), filmado em Inglaterra. O filme mostra temáticas constantes do seu cinema (a ambição, as diferenças de classes, os amores proibidos), mas com um lado mais negro e mais sombrio, pouco visto na sua obra. O mesmo voltaria a acontecer com “O Sonho de Cassandra” (2007), que explora a relação entre dois irmãos com problemas financeiros, funcionando quase como uma previsão da crise que abalaria a Europa económica e socialmente.

A paixão de Woody Allen pela Europa fê-lo rodar ainda em França (ver, por exemplo, “Magia ao Luar” [2014], onde filma a Côte d’Azur), Espanha (Barcelona e Oviedo em “Vicky Cristina Barcelona [2008]) e na Itália (“Para Roma com Amor” [2012]). Woody Allen está de volta à Europa, mais precisamente à Espanha. No próximo ano, estreará o seu mais recente filme: “Rifkin’s Festival”. Afinal, ainda existem espaços para Allen filmar e que o permitem fazê-lo.


7. Woody Allen adorava falar de cinema

Woody Allen
Recordações (1980) é um dos filmes de Woody Allen que fala sobre cinema, com muitas influências de “8½” © Jack Rollins & Charles H. Joffe Productions

Com “Um Dia de Chuva em Nova Iorque”,Woody Allen filma dois jovens que acabam, de alguma forma, envolvidos nas intrigas da sétima arte e, verdade seja dita, o cinema sempre esteve presente nos seus filmes.

A paixão pelo cinema que Woody Allen sempre teve, foi refletida no seu trabalho em diversas ocasiões, a ponto de colocar o cinema como a razão de respirar das suas personagens. A sétima arte está tão presente na sua vida, que o cineasta é incapaz de escrever uma história sem se referir, de alguma maneira, o cinema. Woody Allen chegou mesmo a dizer que começou a ir ao cinema quando tinha cinco anos e que, desde então, ficou fascinado. No bairro em Brooklyn, haviam cerca de 25 cinemas perto da sua casa, e Allen acaba por ir ao cinema entre 4 a 6 vezes numa só semana.

As personagens dos seus filmes vão às salas de cinema em busca da cura para os seus males  e, às vezes, a presença do cinema envolve uma experiência mágica que incute essa admiração pela sétima arte de Allen. Vejamos, a título de exemplo, “A Rosa Púrpura do Cairo” (1985) que conta a história de uma personagem que salta do grande ecrã para a realidade e que se apaixona por uma das suas espectadoras, já muito aficcionada pela figura mágica.

Além disso, num dos seus primeiros filmes como ator “O Grande Conquistador”, Woody Allen interpreta um neurótico crítico de cinema obcecado com “Casablanca” e por Humphrey Bogart. Afinal, o cinema também pode ser espaço de memórias do classicismo perdido de Hollywood.


8. O seu calendário de rodagem é muito limitado

Setembro
Denholm Elliott e Mia Farrow em “Setembro” (1987) © Jack Rollins & Charles H. Joffe Productions

É evidente que um cineasta com um ritmo de trabalho tão constante como o de Woody Allen (capaz de rodar um filme por ano!), requer um planeamento e uma agenda bastante organizada. Normalmente Woody Allen filma entre os meses de outubro e dezembro e depois do Natal dedica-se à edição dos mesmos. Caso aconteçam mudanças na edição, Allen filma novas cenas re-incorporadas depois, até que o filme está pronto para estrear em finais de maio ou junho. Ao mesmo tempo, Woody Allen vai escrevendo as suas histórias na sua mítica máquina datilográfica, sem nunca usar um computador!

Quando rodou “Uma Comédia Sexual numa Noite de Verão” (1982) no verão, dedicou os meses de outono à rodagem do seu seguinte filme “Zelig” (1983). No entanto, as refilmagens atrasaram-se, e sobrepuseram-se à rodagem de “O Agente da Broadway” (1985) e às de “A Rosa Púrpura do Cairo” (1985)Dessa forma, houve dias em que, curiosamente, as filmagens destes três últimos filmes coincidiram. 

Surpreendentemente, “Setembro” (1987) talvez tenha sido um dos maiores pesadelos da cinematografia de Woody Allen. De acordo com a autobiografia de Mia Farrow, “What Falls Away”, Woody Allen filmou duas a três versões de cada cena de “Setembro”, editou o filme, mas não estava satisfeito com o resultado final. Foi então que voltou a redigir o argumento por completo, despediu parte da sua equipa técnica e do elenco refilmou tudo do zero, o que resultou no atraso da estreia. Mia Farrow e Dianne Wiest foram as únicas atrizes a aparecem nas suas versões do filme.


9. Os atores e o processo de casting alleniano

Sombras e Nevoeiro
Woody Allen e Jodie Foster em “Sombras e Nevoeiro” (1991) © Jack Rollins & Charles H. Joffe Productions

Muitos dos atores mais conhecidos de Hollywood (e da Europa) já trabalharam com Woody Allen. Não é preciso dizer muito para saber que todos os protagonistas dos seus últimos filmes são espelho do star-system que continua a dominar a indústria cinematográfica. Entre os grandes atores que já trabalharam com Allen contam-se vários vencedores ou nomeados aos Óscares da Academia: Kate Winslet, Jesse Eisenberg, Cate Blanchett, Joaquin Phoenix, Emma Stone, Colin Firth, Sally Hawkins, Penélope Cruz, Marion Cotillard, Javier Bardem, Goldie Hawn, Julia Roberts, etc.

E é que raramente um ator rejeita um papel num filme de Allen – vejamos os casos de Christoph Waltz, Gina Gershon, Elena Anaya, Wallace Shawn, Louis Garrell e Sergi López que irão participar no seu “Rifkin’s Festival” mesmo depois das polémicas e acusações de violação por parte da filha Dylan Farrow. Mesmo assim, houve casos como os de Jack Nicholson e James Mason – que exigiam um salário mais elevado -, que dificultaram Allen a trabalhar com quem queria. Bem propósito, Dustin Hoffman sempre demonstrou grande interesse em trabalhar com Allen, mas nunca foi possível coordenar as agendas de ambos.

Houve também outras situações excepcionais em que atores entraram em contacto com o realizador para trabalhar nos seus filmes. Foi o caso de Jodie Foster que telefonou para o escritório de Allen para afirmar que adoraria trabalhar com ele num filme. Naquela época, Allen estava a trabalhar no argumento de “Sombras e Nevoeiro” (1991) e disse à atriz de “O Silêncio dos Inocentes” que tinha apenas um pequeno papel disponível: o de prostituta, que Jodie Foster aceitou de bom grado.

Em outras situações, o realizador escolhe uma atriz em especial que acaba por se tornar a sua musa (vejamos Diane Keaton, Mia Farrow, Scarlett Johansson, Emma Stone, Parker Posey, Penélope Cruz), mas na maior parte dos casos Woody Allen trabalha junto de Juliet Taylor (a sua diretora de elenco) para escolher os atores. O processo de audição é bastante simples. Allen fala apenas com os atores muito brevemente, sem muitos rodeios. Caso goste, o cineasta faz chegar o argumento ao ator com as suas pequenas notas, dizendo que espera que ele gostem de o ler e indica ao ator que este é livre para mudar qualquer fala, de modo a que se encaixe no seu ponto de vista em relação à personagem. Segundo Taylor, o casting mais rápido de Allen demorou 10 segundos.


10. “Um Dia de Chuva em Nova Iorque” tem mesmo diretor de fotografia de “Apocalypse Now”

Café Society
Vittorio Storaro, diretor de fotografia de Apocalypse Now e Woody Allen a rodar “Café Society” © British Cinematographer

Desde os seus primeiros filmes Woody Allen sempre procurou manter-se vinculado com à mesma equipa técnica e artística. Jack Rollins (1915 – 2015) e Charles H. Joffe (1929 – 2008), eram representantes de atores quando Woody Allen, com apenas 22 anos, surgiu no seu escritório. Até às datas das suas mortes, Allen trabalhou com Rollins e Joffe, como seus produtores executivos.

Contam-se ainda no currículo de Allen raras colaborações com outros argumentistas, isto porque Allen sempre escreve os seus filmes. Aconteceu apenas 3 vezes: Marshall Brickman (“Sleeper” [1973], “Annie Hall” [1977] e “Manhattan” [1979]), Mickey Rose (“What’s Up, Tiger Lily?” [1966], “Take the Money and Run” [1969] e “Bananas” [1971]) e Doug McGrath (“Balas Sobre a Broadway” [1994]).

Entre os seus diretores de fotografia, apesar de Gordon Willis, Carlo Di Palma, Zhao Fei e Sven Nykvist ( este último o principal diretor de fotografia dos filmes de Ingmar Bergman), a colaboração mais recente na equipa técnica faz-se com Vittorio Storaro, um dos mais aclamados diretores de fotografia, que colaborou igualmente com Allen em “Café Society” (2016), “Roda Gigante” (2017), “Um Dia de Chuva em Nova Iorque” (2019) e que voltará a colaborar com o realizador em Rifkin’s Festival (2020). 

Os planos de Vittorio Storaro (também ele diretor de fotografia de Coppola em “Apocalypse Now”) iluminam maravilhosamente as personagens, a câmara faz jogos incríveis com a luz. O diretor de fotografia permite, inclusive que Woody Allen filmasse pela primeira vez com recurso aos digital, com “Café Society”. A cor move as personagens de Jesse Eisenberg e Kristen Stewart e os seus próprios sentimentos, como também acontecia em “Roda Gigante”. As personagens representam sempre a sua personalidade e o seu caráter.

Que outras curiosidades e factos conheces sobre a carreira de Woody Allen e queiras partilhar connosco? Um Dia de Chuva em Nova Iorque já está em exibição nas salas de cinema em Portugal. 

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